A cirurgia metabólica vêm ganhando muita importância e popularidade nos últimos anos. O procedimento, que utiliza as mesmas técnicas da cirurgia bariátrica ou cirurgia de redução do estômago, é um tratamento recomendado especialmente para pacientes obesos, com o objetivo de controlar comorbidades agravadas pelo excesso de peso. Mas será que você sabe tudo sobre ela?
Na realidade, a cirurgia ainda é alvo de mitos e estigmas, apesar de ser um tratamento bastante eficiente. Entenda mais sobre esse procedimento que já é utilizado em mais de 68 mil pessoas todos os anos ao longo deste artigo.
A cirurgia metabólica tem como objetivo principal tratar as doenças associadas ao acúmulo de gordura. Alguns pacientes, por exemplo, possuem quadros de diabetes tipo 2 que não respondem bem ao tratamento medicamentoso. Isso acontece porque o diabetes é uma doença crônica que piora com o tempo, aumentando o risco de complicações.
Com o crescimento da cirurgia bariátrica foi observado que pacientes obesos diabéticos submetidos à essa cirurgia, conseguiam controlar rapidamente o diabetes, antes até de uma perda efetiva de peso. Por isso, vários médicos passaram a recomendar esse procedimento para certas pessoas, principalmente diabéticos tipo 2 com obesidade leve e dificuldade de controle com medicamentos. Seus resultados ficam aparentes em curto, médio e longo prazo para quem a realiza.
A cirurgia bariátrica metabólica ficou popularmente conhecida como cirurgia de redução de estômago logo que foi introduzida ao público em geral. O motivo era simples: ela ajudava pacientes obesos a perder peso ao diminuir a capacidade do estômago, aumentando a saciedade.
No entanto, a comunidade médica considera o termo cirurgia de redução de estômago como uma forma extremamente simplificada de falar. Afinal de contas, não é só a menor capacidade de armazenar alimentos no estômago que gera todas as mudanças pelas quais o paciente passa.
O procedimento também gera mudanças hormonais e metabólicas, daí o porquê do nome cirurgia metabólica, já que ela ajuda na perda de peso e controle de doenças associadas à obesidade como o diabetes tipo 2. Portanto, a cirurgia metabólica basicamente é a mesma que a bariátrica, mas normalmente é indicada para pessoas onde o diabetes tipo 2 ou outras doenças como hipertensão arterial e dislipidemia (colesterol alto no sangue), são os principais problemas.
Quem deseja passar por uma cirurgia metabólica, que também pode ser chamada de cirurgia bariátrica ou gastroplastia redutora, deve primeiro ser avaliado por uma equipe multidisciplinar. Existem três fatores essenciais para ser um candidato ideal para o procedimento:
● Idade;
● IMC;
● Tempo de doença e comorbidades.
Pessoas que têm IMC acima de 40 não precisam ter qualquer tipo de doença relacionada para fazer a cirurgia. Já quem possui IMC entre 35 e 40 pode fazer, mas deve ser portador de comorbidades, como:
● Diabetes tipo 2;
● Hipertensão arterial;
● Apneia do sono;
● Doença coronária;
● Osteoartrites;
● Refluxo gastroesofágico;
● Hérnia de disco;
● Esteatose hepática;
● Hipertensão intracraniana;
● Outros.
Ainda existe a possibilidade de pacientes com IMC entre 30 e 35 serem elegíveis. No entanto, suas comorbidades devem ser consideradas graves após avaliação pela equipe especializada. A diabetes melitus tipo 2 que não responde ao tratamento conservador é a principal indicação nesses casos. Nesta situação, como falamos anteriormente, a cirurgia é chamada de metabólica.
Pacientes conseguem diversos benefícios com a cirurgia metabólica, como o controle de doenças associadas à obesidade e também do excesso de peso. Ao contrário do que muitos pensam, a obesidade é uma doença multifatorial e de difícil trato. Para aqueles que não estão conseguindo resultado efetivo com dietas, medicamentos e exercício físico, a cirurgia, sem dúvida, é um tratamento que deve ser avaliado.
Por isso, conseguir recuperar a saúde e autoestima através do procedimento cirúrgico é um de seus maiores benefícios. Além disso, ela é uma forma eficiente para conseguir tratar doenças crônicas relacionadas ao excesso de peso, como veremos abaixo.
A gastroplastia redutora é indicada para alguns casos de diabetes tipo 2. Quem passou pelo procedimento também diminui as chances de morte por eventos cardiovasculares.
O procedimento pode ser considerado como tratamento para diabetes quando o paciente não teve melhora clínica, apesar do tratamento medicamentoso. Desde 2018, ser portador de diabetes tipo 2 que não responde bem ao tratamento é considerado motivo para fazer a bariátrica, mesmo com IMC entre 30 e 35.
Além disso, a mudança de comportamento e estilo de vida no período pós-bariátrica é excelente para quem possui a doença crônica. Ao alimentar-se com mais cuidado e praticar atividades físicas regularmente, por exemplo, o paciente consegue controlar melhor suas taxas glicêmicas.
Estudos científicos mostram que a gastroplastia redutora é um tratamento eficaz contra a hipertensão. Uma análise realizada no Hospital do Coração e publicada na revista Circulation, mostrou que 51% dos pacientes que passaram pelo procedimento apresentaram remissão da doença.
Exatamente por isso, a hipertensão é considerada uma das comorbidades que justificam a realização do procedimento com IMC entre 35 e 40. Graças ao procedimento, pacientes relatam maior facilidade em controlar a pressão arterial.
A obesidade é um fator agravante da doença e ainda aumenta o risco de condições cardiovasculares, como um AVC. O controle do peso é extremamente importante para conseguir resultados satisfatórios com o tratamento.
A cirurgia metabólica permite controlar também quadros de dislipidemia, ou seja, de acúmulo de lipídios no sangue. Esse quadro é um importante agravante para complicações cardíacas e de difícil controle em pacientes obesos.
Meses após o procedimento, esses indivíduos já conseguem perceber diferenças em exames de perfil lipídico. Quando consideramos a combinação de controle de hipertensão e dislipidemia, as chances de problemas cardíacos cai drasticamente.
A gastroplastia redutora também é bastante recomendada para problemas hepáticos. A esteatose hepática, ou doença hepática gordurosa, é uma comorbidade extremamente comum em pacientes obesos.
A combinação de má alimentação, sedentarismo e outros hábitos prejudiciais ao organismo levam ao acúmulo de gordura no fígado. Com a melhora do perfil metabólico do paciente e com a perda de peso, essa doença pode ser controlada após a cirurgia.
Em alguns casos, pacientes possuem esteatose e diabetes tipo 2 simultaneamente, aumentando radicalmente a resistência à insulina. Isso acelera o ganho de peso e torna o tratamento sem cirurgia extremamente difícil. É um ciclo vicioso em que o diabetes e a esteatose se agravam conforme o peso aumenta, além de dificultarem o emagrecimento.
Existem três formas de realizar a cirurgia metabólica. Isso significa que o cirurgião responsável pode optar pelo método mais seguro e eficiente de acordo com o quadro apresentado pelo paciente.
A cirurgia aberta ocorre com laparotomia, ou seja, um corte extenso no abdômen para acessar o local que deve ser operado. Hoje em dia, o procedimento raramente é indicado como primeira opção operatória.
Diferentemente do procedimento aberto, a cirurgia laparoscópica ocorre com pequenas incisões no abdômen para inserir instrumentos. Dessa forma, o procedimento acontece com menores riscos à saúde do paciente. Por usar cortes menores, ele diminui o sangramento e trauma, proporcionando também uma recuperação mais rápida e menos dolorosa.
A laparoscopia é o padrão ouro para cirurgias gástricas desse tipo. Mas é importante saber que em alguns casos o cirurgião pode precisar alterar de laparoscopia para cirurgia aberta por motivos particulares durante o procedimento.
Conforme a tecnologia avança, a cirurgia metabólica robótica tem ganhado cada vez mais espaço. Essa técnica cirúrgica possui o melhor tempo de recuperação entre as três por causar menos sangramento e usar pequenos cortes por onde passam os braços articulados do robô para a realização do procedimento.
Frequentemente, pacientes que passam pelo procedimento robótico precisam somente de 24 horas de internação antes de ter alta. Isso acontece graças à precisão e delicadeza dos braços robóticos utilizados para o procedimento. O cirurgião permanece na sala de cirurgia, já que controla o equipamento, porém com muito mais eficiência.
Também podemos separar os tipos de cirurgia metabólica de acordo com o método adotado pelo gastrocirurgião.
A cirurgia bypass gástrico é a técnica cirúrgica mais usada no Brasil, correspondendo a 70% do total de bariátricas. Durante o procedimento, o cirurgião “grampeia” parte do estômago para diminuir seu volume e capacidade de absorção. Ao mesmo tempo, realiza um desvio da parte inicial do intestino. A costura realizada é similar a uma letra Y, por isso ela também é chamada de Y de Roux.
Graças a isso, o paciente consegue aumentar sua sensação de saciedade e reduzir os lanches por impulso. Tudo ocorre por uma combinação de alterações hormonais (maior produção de hormônios da saciedade) e fisiológicos.
A cirurgia sleeve é um pouco mais “traumática” para o estômago, já que retira uma parte dele para formar um tubo único que leva o alimento direto ao intestino. No entanto, não ocorre qualquer alteração na parte inicial desse segundo órgão (intestino), como ocorre no bypass.
A perda de peso neste método também é significativa, além de possuir excelentes efeitos para controle de problemas crônicos, como: hipertensão arterial; colesterol e triglicerídeos altos.
Antes da gastroplastia redutora, os pacientes precisam passar por um longo processo de preparação. O objetivo é melhorar sua saúde geral e trazer o máximo possível de segurança ao procedimento. Como ocorre com qualquer cirurgia, existe chance pequena de complicações em todos os métodos utilizados, mas uma boa preparação ajuda a diminuir a quantidade de ocorrências.
O cirurgião geralmente pede que a pessoa perca o máximo possível de peso e controle problemas crônicos. Também deve passar por exames, que incluem endoscopia digestiva, exames laboratoriais e ultrassom abdominal.
A equipe multidisciplinar começa seu envolvimento nessa fase. Avaliações prévias com o psiquiatra, cardiologista, nutricionista e endocrinologista permitem encontrar riscos para o procedimento ou para a recuperação. Em casos de distúrbios alimentares, psicológicos ou hormonais, tudo precisa de tratamento antes de qualquer procedimento cirúrgico.
Após a cirurgia metabólica o paciente também passa por um longo pós-operatório. No lado nutricional, o estômago e intestino terão um período de readaptação aos alimentos. Também é nesse momento em que ocorre a maior perda de peso, passando por alguns meses de dieta especial.
Também é importante manter o acompanhamento com a equipe multidisciplinar para iniciar um novo relacionamento com a comida. O psicólogo auxilia o paciente a compreender e adaptar-se à sua nova realidade, enquanto o educador físico permite o retorno às atividades físicas.
Para que o paciente se recupere logo após a cirurgia metabólica, seja pela técnica bypass ou sleeve gástrico, é importante que ele siga à risca todas as instruções repassadas pelo cirurgião bariátrico ou gastrocirurgião. Por isso, as visitas ao especialista depois da cirurgia são imprescindíveis. Desse modo, o tempo de remissão e melhora das comorbidades, como diabetes e hipertensão arterial, é mais rápido.
O paciente costuma ficar internado cerca de 24 horas na unidade hospitalar. Ao receber alta, o indivíduo retorna para casa, onde precisa fazer repouso relativo por, pelo menos, 15 dias.
Depois da primeira quinzena da gastroplastia redutora, a pessoa estará liberada para retornar às tarefas leves, como trabalhos que não exijam tanto esforço físico. Somente após 60 dias, as atividades mais pesadas serão autorizadas.
Vale destacar que, inicialmente, o acompanhamento médico é mensal. Depois, as visitas ao especialista passam a acontecer a cada 3 meses, para manter o controle com a realização de exames e, quando necessário, repor vitaminas e minerais ao organismo.
Visando obter êxito nos resultados da gastroplastia redutora, o paciente deve buscar acompanhamento multidisciplinar, envolvendo vários profissionais da saúde, tais como:
● Nutricionista: responsável pela dieta tanto na fase pré-operatória quanto na etapa pós-cirúrgica. Também deverá prescrever a suplementação vitamínica adequada para cada caso. É importante que o paciente tenha uma alimentação balanceada e bastante nutritiva para o resto da vida.
● Educador físico: ajudará a estabelecer um cronograma de exercícios físicos apropriados para cada etapa. Deverá acompanhar a evolução do indivíduo. Ainda é essencial que o profissional oriente o paciente, para que ele consiga progredir e manter a constância nas atividades, uma vez que a obesidade não tem cura.
● Psicólogo: as sessões de terapia devem ser contínuas. Esse profissional tem a função de auxiliar a pessoa operada a lidar com a nova realidade e a compulsão alimentar, além de cuidar da autoestima e do seu bem-estar.
A equipe multiprofissional ainda pode incluir endocrinologista e fisioterapeuta, dentre outros especialistas.
A readequação alimentar faz parte da reeducação alimentar pela qual todo paciente que fez a cirurgia metabólica está sujeito. No pós-operatório, há três fases importantes de adaptação do cardápio:
● dieta líquida;
● dieta pastosa;
● dieta branda – em que são inseridos alimentos bem cozidos.
Nessas etapas, o indivíduo deve buscar acompanhamento com um nutricionista, que irá ajudá-lo a escolher alimentos mais nutritivos, ricos em proteínas e ferro. Isso é fundamental para evitar quadros de anemia, por exemplo, já que a quantidade de alimento a ser ingerida será drasticamente reduzida.
A partir do primeiro mês após a cirurgia, é possível introduzir alimentos mais consistentes gradualmente, lembrando que o paciente precisará alcançar êxito no mecanismo de mastigação.
Nesse período, é crucial tomar cuidado com valor nutricional alcançado na alimentação. Isso porque existem proteínas que auxiliam na cicatrização, manutenção da massa magra e na prevenção da queda de cabelo, entre outros fatores.
Esses novos hábitos alimentares devem ser mantidos pelo resto da vida, priorizando uma dieta equilibrada com fontes variadas de nutrientes. Além de tudo, é necessário garantir suplementação com polivitamínicos e minerais.
Depois da cirurgia metabólica, algumas mudanças no estilo de vida devem ser adotadas pela pessoa operada, para que o tratamento contra a obesidade associada a comorbidades, como a diabetes, tenha sucesso. Confira alguns hábitos que devem ser incorporados à nova vida quanto à alimentação e à saúde física:
● Evitar alimentos ultraprocessados, como os embutidos, que possuem aditivos químicos, conservantes e alto teor de açúcar.
● Beber, pelo menos, 2 litros de água por dia.
● Não ingerir bebidas durante as refeições.
● Hidratar-se adequadamente entre as refeições, com chás, sucos naturais e água de coco.
● Dar preferência aos adoçantes.
● Nas primeiras semanas após a cirurgia, não comer alimentos muito ricos em fibras.
● Não fumar nem consumir bebida alcóolica em excesso.
● Praticar atividades físicas.
Os exercícios físicos ajudam a otimizar os resultados do procedimento e a preservar ou ganhar massa muscular. Também cooperam para prevenir possíveis complicações, bem como melhoram o metabolismo.
Diversas pesquisas certificam que quem passou pela cirurgia bariátrica ou metabólica obtém mais qualidade de vida. Além de recuperar a autoestima, saiba outros três benefícios:
1) Maior qualidade de sono: o indivíduo consegue alcançar melhorias neste quesito. Isso porque o excesso de peso dificulta a respiração, podendo favorecer ou agravar doenças, como a asma, ou distúrbios do sono, como, por exemplo, a apneia obstrutiva. Com a cirurgia, há menor pressão devido ao volume abdominal e diminuição da gordura do pescoço. Assim, a pessoa consegue ter um sono revigorante.
2) Melhor convívio social: ao cuidar da sua imagem e saúde, o paciente ainda conquista avanços nos seus relacionamentos interpessoais e sociais. Se antes a pessoa encontrava-se insatisfeita com a própria aparência, a intervenção cirúrgica é capaz de não fazê-la somente emagrecer, mas também ganhar autoconfiança e mudar seu modo de vida completamente.
3) Aumenta a fertilidade: para os sexos masculino e feminino, ocorre uma regularização hormonal. No caso dos homens, isso melhora a produção de hormônios ligados à qualidade e quantidade do esperma. Já para as mulheres, o procedimento normaliza o ciclo menstrual, assim como o processo de ovulação, potencializando a probabilidade de engravidar.
A cirurgia metabólica é uma técnica eficaz e segura contra a obesidade e suas comorbidades como diabetes, hipertensão arterial e dislipidemia. As técnicas cirúrgicas são as mesmas da cirurgia bariátrica e está presente na comunidade médica há mais de meio século. Seus progressos nas últimas décadas fortaleceram sua credibilidade, tornando o método cada vez mais seguro e eficiente.
Assim como qualquer procedimento cirúrgico, existe algum tipo de risco. Todavia, com o advento da laparoscopia e o uso de técnicas autorizadas, como bypass gástrico e sleeve, a chance de mortalidade dessa técnica cirúrgica é bem reduzida, cerca de 0,05%.
Além disso, conviver com doenças relacionadas à obesidade traz muito mais riscos à saúde. Por isso, procure por um cirurgião bariátrico ou gastrocirurgião experiente e de confiança na hora de decidir pela cirurgia.
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